Acreditem, meninas, eu já fui tímida. Talvez esteja aí a razão pela qual comecei a escrever. Foi lá na quinta série. Nos diários ultra-secretos. A timidez também me acompanhou nos aniversários, quando eu me escondia debaixo da mesa na hora do parabéns a você. Não gosto de ser o centro do universo – embora, admito, hoje já não me importo de ser o centro de uma turma de amigos. Ou até de uma turma de desconhecidos. Aprendi. "A vida ensina", dizem aqueles mais experientes do que nós.
Foi depois de algumas sessões de terapias – com a mãe, a vovó e quem mais pudesse me ajudar – que aprendi a gostar de mim mesma. E assim a autoconfiança aumentou (e o blablablá também, causando alguns transtornos escolares). Então, cresci e me tornei uma garota-mulher que, além de escrever, fala pelos cotovelos, tornozelos e afins. Só não falo com os garotos. Verdade! Não sei como você é, mas eu sou péssima para tomar a iniciativa. Sempre tive mil e um amigos homens. Mas nunca pulei a barreira da amizade e tentei algo mais. Nem sei fazer isso. Juro. Assim vivi a adolescência inteira. Nem sequer mensagens virtuais – não criadas por mim. Bem, talvez hoje o Orkut funcione como um facilitador. Ainda não tentei. E você?
Quero dizer que, apesar da óbvia personalidade extrovertida, tomar a iniciativa é uma tarefa complicadíssima para mim. Qual assunto falar? Garotos gostam de futebol e mulheres. Eu gosto de roupas e homens. Não tem nada a ver, nenhum ponto comum entre um e outro. Sei que existem homens de todos os jeitos. Tem loiro-careta, loiro-descolado, moreno-caliente, moreno-malhado. Estamos todas sempre rodeadas por eles. E precisamos saber como “chegar”, puxar assunto. Afinal, nesses dias globalizados, se você não tomar a frente, outra garota vai “globalizar”. Socializar, eu quero dizer. E a todas que se dizem garotas modernas como eu, tenho uma suspeita: você sabe ser uma garota moderna nesse mundo moderno?
Vamos lá, vou tentar alguns passos no tête-à-tetê com os garotos. Primeiro, o olhar. É fundamental, não é? E pouco interessa a cor dos olhos, do verde ao marrom-escuro, a intensidade guarda o segredo. A maneira como você se conecta com ele. Depois, o sorriso. Posso estar errada, mas acredito que o sorriso é a prova do interesse pelo gatinho. Sorria com vontade (lembre-se antes de checar com a amiga se não tem nada colado nos seus dentes). E então...
Espaços em branco. Páginas em branco. Um livro inteiro sem nada, muito menos respostas. Caso ele não se aproxime depois de olhares sedutores e sorrisos convidativos, eu não sei o que fazer. Ele deve vir, tentar um papo divertido, bem-humorado, de preferência. Eu juro, prefiro até ouvir aquela frase usada pelos garotos dez mil vezes em dez mil tentativas diferentes: “você é a menina mais linda da festa”. Tudo menos eu tomar a iniciativa. Bom, nem tudo. Nada de princesa, por exemplo. Argh. Princesa, nem pensar. Quem sabe apenas um beijo. Direto, sem meia palavra, só suspiros. E a sensação mais gostosa que se pode esperar de um sábado à noite.
Desculpem-me, meninas. Mas, mesmo anos após o trauma dos aniversários escondida e das confidências aos diários, ainda preciso desenvolver a iniciativa com o sexo oposto. Alguém quer compartilhar sua estratégia comigo?