Alguns nomes em Hollywood funcionam mais ou menos como uma franquia bem sucedida de fast-food: você sabe que aquela batata frita não é a coisa mais saudável do mundo, mas tem certeza de que ela nunca vai sair do padrão e decepcionar na hora de satisfazer seu desejo pelo prazer que se resume apenas na experiência de comê-la. E, ainda que com substâncias químicas não-identificáveis, continua sendo uma batata, certo? Troque o verbo "comer" por "assistir" e dá pra entender porque Tom Cruise é como uma dessas batatas fritas cozinhadas em "delicioso" óleo vencido. Você sabe que ele não vai fugir do padrão meio canastrão de ser e te decepcionar na hora de disparar frases de efeito ou projéteis que, nunca, nunca mesmo, erram o alvo. Mas atenção: ainda que imbatíveis, as batatas fritas de ingredientes suspeitos, mais cedo ou mais tarde, murcham.
São por essas e outras que Encontro Explosivo é uma opção apetitosamente gordurosa, às vezes gordurosa demais, para quem quer viver aquela recorrente experiência de pouco menos de duas horas sem precisar se esforçar para entender as piadas. E algumas delas são realmente boas. Outras bem fracas. Agora sem o drama de Missão Impossível e com uma parceira que é possivelmente a melhor comediante do gênero batata, ops, pipoca, Cruise entra e sai de cena fazendo as mesmas caras e bocas que conhecemos desdeNegócio Arriscado (1983). Aos 48 anos, o ator cuja vida privada consegue ser tão ou mais interessante que os fabulísticos roteiros de Hollywood, quer provar que continua em forma. E tira até a camisa para isso. No que refletimos: menos, Tom Cruise, menos.
Mas ok, vamos em frente. Afinal de contas, como já foi mencionado, a parceira do ator em Encontro Explosivo é uma moça não tão mais moça assim (38 primaveras) que sabe fazer bem feito quando o assunto é comédia. Cameron Diaz é uma máquina de produzir cócegas com os roteiros mais bobos e ingênuos do mundo. Aliás, é essa ingenuidade e constante expressão de desavisada que faz de Diaz uma atriz com um talento genuíno para o humor. E o maior trunfo de Encontro Explosivo é explorar essas qualidades da atriz.
A trama é simples em sua complexidade: o novo petróleo do mundo é uma bateria que nunca descarrega. Para proteger tal artefato das mãos erradas, um ex-agente do governo americano mata (quase) todos os passageiros e tripulação de um avião, pessoas que o estavam perseguindo para conseguir a tal bateria. Quase porque sobrou June, uma loira que há tempos não consegue desencalhar e que entrou de gaiata no avião achando que não apenas ia chegar ilesa ao seu destino final, como conseguiria descolar o carinha com sorriso de pasta de dente que, por duas vezes, esbarrou com ela no saguão do aeroporto. As coisas não saem como June havia planejado e ela se vê então testemunha de assassinatos que vão lhe custar uma inevitável ligação a Roy Miller, o galã assassino.
A partir daí, você assiste à sequência de imagens mais ou menos como a personagem de Cameron Diaz em boa parte da história: sob efeito de dopes, em flashes de imagens que mais parecem um filme de James Bond em fastfoward.
Roy e June vão passar imunes por perseguições velozes, salas de tortura, várias paisagens internacionais, ilhas paradisíacas e, claro, modernas metralhadoras que conseguem destruir prédios, mas por algum defeito de fabricação, nunca atingem o casal principal. Vilões e suas pontarias de iniciantes, nós amamos vocês. Portanto, sem peles arranhadas e com o cabelo sempre bem hidratado, os personagens de Cruise e Diaz são conduzidos a um romance que, imagina-se, deveria emular algo no gêneroSr. e Sra. Smith. Mas a bem da verdade termina vibrando uma energia mais semelhante àquela famosa entrevista de Cruise em Oprah Winfrey, quando ele pulou do sofá e esmurrou o chão para exclamar com bold e CAPSLOCK que estava apaixonado por Katie Holmes. Em outras palavras: menos, Tom Cruise, menos.
No entanto, em um cenário de paisagem aberta, Encontro Explosivo funciona e você vai sair do cinema com uma agradável experiência. Mas por culpa da própria franquia em que se transformou Cruise dentro e fora das telas, o filme não chega ao requinte de comédias como o já citado Sr. e Sra. Smith. E é preciso reconhecer que, mesmo com algumas pequenas rugas expostas em cinemascope, Tom Cruise e Cameron Diaz sabem ser consumidos como receita pronta sem grandes ressentimentos artísticos.
Fica difícil errar feio quando você coloca esses dois em uma trama de explosões, auto-referências (Missão Impossível para ele e As Panteras para ela) e piadas com o gênero sempre absurdo que são os filmes de ação em Hollywood. Para agradar sem esforço, é batata. Ops.
Fonte: Terra